Genebaldo Freire Dias falando como se estivesse no ano de 3014.
Em 2014 se estimulava o consumo, aumentava a pressão sobre os recursos naturais, degradava-se mais, diminuia-se a qualidade de vida e fechava-se um ciclo. Havia um grande engano: o de retirar as florestas, poluir os rios e acabar com os animais para gerar empregos e esses empregos não chegaram nunca. Chegaram para uns poucos, as chamadas elites, mas logo perceberam que a miseria era tamanha que eles não tinham onde gozar as benesses que conseguiam com a corrupção e outras práticas inconcebíveis.
As pessoas viviam para ganhar dinheiro, juntar muitas coisas e depois jogar fora.
As pessoas sabiam quanto era preciso para eleger um prefeito e depois queriam esse dinheiro de volta. O sistema não representava mais a maioria das pessoas. A classe política entrou em descrédito porque as pessoas já a colocavam como sinônimo de corrupção.
Uma das consequências dessa falta de percepção eram os péssimos hábitos de alimentação. A mídia dizia que se tinha que comer isso e aquilo senão não se seria feliz. A agricultura passou a adotar métodos absolutamente insustentáveis com alto consumo de água, energia e degradação do ambiente.
Essa alimentação inadequada aumentou o número de doenças, câncer, alzheimer, doenças nervosas, sindrome do panico, pressão alta, diabetes, AIDS, febre amarela.
Acontece que havia um lado que lucrava com isso, o câncer por exemplo era uma doença caríssima, uma radioterapia, uma quimioterapia, as drogas que se tomavam durante cinco, dez anos, movimenta uma indústria bilionária, então o cancer era útil para o sistema, as pessoas precisavam adoecer então nada como uma alimentação com ciclamato, para as pessoas ficarem doentes e vão buscar gastar o dinheiro com tratamentos que não acabavam nunca.
O Brasil tinha 210 milhões de habitantes e 211 milhões de bois, talvez o nome do país tivesse que mudar para Boisil.
Em 2014 as pessoas ainda tinham hábitos primitivos de alimentação, se alimentavam de cadáveres, o ser humano demorou muito a entender que a alimentação baseada em cadáveres não era aceitável.
As matança dos bichos alimentava mercados bilionários.
A busca incessante de acumular bens, de ficar rico, foi levando as nações a degradarem todo o seu patrimônio natural e passaram a ter problemas de água e redução de safras.
O consumo foi responsável pela degradação ambiental em todo o mundo.
Descobriu-se um pouco tarde que não se precisava de tanta coisa para sobreviver. As pessoas se tornavam extremamente egoístas, extremamente individualistas.
A lógica do egoísmo, a lógica do primeiro eu e o resto que se dane. A lógica do consumo não era a lógica do que eu preciso e sim a lógica do que eu posso ter além do que eu preciso.
As religiões se transformaram num grande negócio, era muito comum ver nos programas de televisão, no meio da sua conversa aparecia no vídeo o número da conta do banco, a agência do banco que se deveria depositar os seu dinheiro, as pessoas eram simplesmente enganadas com milagres ensaiados e com isso as filosofias religiosas foram se perdendo.
Quando os recursos naturais escasseiam as pessoas vão se angustiando e a estratégia de sobrevivência vai mudando, quando a situação está confortável você pensa nas outras pessoas, na sua família, quando aperta mais você pensa só em você, e foi isso o que foi acontecendo.
A mudança no clima foi uma das últimas oportunidades de evolução da espécie humana. Perdeu-se um tempo enorme com discussões se a mudança um efeito próprio do planeta, se era do ser humano. Foi uma discussão idiota, porque o planeta é mutável, o ser humano com suas práticas de desmatamento, durante 400 anos o ser humano arrancou petróleo do subsolo, retirou gás carbônico estocado e lançou para a atmosfera, claro que isso contribui de uma forma violenta para alterar a química da atmosfera.
Mas existiam os céticos que diziam que nada disso estava acontecendo, pesquisas encomendadas, financiadas pelas grandes empresas petrolíferas do mundo e pela indústria automobilística. Quando o quadro ficou mais sério esses céticos se recolheram.
A medida que o quadro de mudança do clima foi ficando cada vez mais grave, os céticos se recolheram, sobrava para a espécie humana dois caminhos, a mitigação e a adaptação.
Foram feitas várias conferências, seria necessário o ser humano reduzir as emissões, reduzir o consumo de combustíveis fósseis, dar preferência ao transporte público, parar de desmatar, reduzir os incêndios florestais.
Infelizmente nada disso aconteceu, o poder econômico foi mais forte do que os ambientalistas. Inundações, secas prolongadas, perdas contínuas de safras, pragas incontroláveis, o preço dos alimentos disparou, a inflação ficou insuportável.
Os anúncios que diziam que o planejamento urbano precisava mudar. Tudo isso foi ignorado. Os ambientalistas, os gestores que se preocupavam com a dimensão ambiental eram ecoloucos, ecochatos, biodesagradáveis, eram pessoas sonhadoras, consideradas como empecilho ao progresso.
Palestra: 3014: de volta para o presente
Genebaldo Freire Dias
http://www.youtube.com/watch?v=rl1b9JBYNtk#t=1062
Com 19 livros publicados e 40 anos de ativismo, Genebaldo Freire Dias é o autor brasileiro mais citado em Educação Ambiental.